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MCP e Mototrofa juntos em Passeio de Natal bem à Portuguesa

Passeio de Natal MCP Mototrofa 2019Bom tempo ajudou sucesso… à mesa

Se o Natal é tempo de mesa farta e convívio, boa disposição e oferta de presentes, então o Passeio que, anualmente, junta sócios do Moto Clube do Porto aos clientes e amigos da Mototrofa voltou a fazer jus à quadra que está mesmo aí à porta. A ideia, já se sabe, é confraternizar, desfrutar de algumas das mais interessantes estradas do Norte de Portugal, descobrir uns quantos tesouros paisagísticos e etnográficos, conhecer o património e artesanato lusitano, e, claro está, apurar os sentidos gastronómicos.
Desafio a que responderam uma centena de entusiastas, esgotando completamente os lugares disponíveis, que sem temores à incerteza climatérica acabaram por ser brindados com o dia mais soalheiro dos últimos tempos. E nem o nevoeiro matinal diluiu grande animação desde o primeiro momento, quando, ainda bem cedo, nas instalações da Mototrofa, os participantes iam fazendo o check-in e provando o delicioso bolo da Trofa, jesuítas e outras lambarices com que os irmãos Isabel e Francisco Silva sempre gostam de acarinhar os convidados. Tempo para as primeiras conversas e para um curto briefing antes de colocar em andamento a caravana de 73 motos, com saída da Trofa através das vias menos usuais e de maior envolvente paisagística.
Voltas e voltinhas para fugir ao trânsito matinal de um sábado, que levariam o pelotão, muito certinho, até à Doçaria de Fornelos para a primeira descoberta do dia. Casa afamada pelo pão de ló, largamente reconhecido como um dos melhores do País, revelou alguns dos segredos (os possíveis…) da confeção desta iguaria feita apenas com farinha, açúcar e ovos caseiros e cozinhado em forno de lenha. Fruto de uma receita, com mais de 70 anos, transmitida de geração em geração até chegar a César Freitas, bisneto da criadora de tão doce segredo. Sempre presente, a mãe do incansável pasteleiro, a simpática D.ª Emília, conta que todos os dias saem dos fornos a lenha mais de 50 quilos de pão de ló mas que, por alturas do Natal ou da Páscoa são produzidas mais de 7 toneladas desta iguaria, à custa de muitos milhares de dúzias de ovos caseiros, com as gemas separadas à mão por verdadeiras especialistas. Tempo ainda para descobrir outras doçarias, a começar pelos fabulosos doces de gema, feitos, claro está, com a gema de ovos caseiros e que, por isso mesmo, possuem uma cor e sabor inconfundíveis, além de das tradicionais cavacas, rosquilhas ou dos biscoitos manteigueiros, de limão, côco, cacau ou baunilha.
De barriguinha bem composta, rumou-se mais a norte, através de estradinhas ladeadas por surpreendentes paisagens, passando por inúmeros carvalhais de belíssimos tons outonais, rasgando a pacatez de algumas aldeias até chegar a Aboim. Simpática, a Anne Sophie Pereira, responsável pelo Museu do Moinho e do Povo de Aboim desvendou os segredos do Moinho da Casca de Carvalho onde, como o próprio nome indica, era moído o referido elemento natural extraído das árvores que formam a maior mancha de carvalhal em toda a Europa. A casca, extraída apenas uma vez durante toda a vida da árvore, era moída até ficar em pó, vendido para as fábricas de curtumes de Guimarães para tratar as peles, garantindo assim maior maneabilidade e resistência.

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Penitência e aleluia em Lamego

À Descoberta de muito património religioso e belezas naturais com o MCP e a MotoTrofa

A chuva, extremamente necessária depois de meses de escassa pluviosidade que quase ditam regime de seca extrema em Portugal, foi penitência cumprida pelos participantes do À Descoberta 2019, em redor de Lamego, entre os rios Douro, Varosa e Balsemão. Divina provação que quase diluiu algumas das cénicas paisagens e obrigou a redobrar atenções na estrada, mas que não roubou sorrisos no rosto de todos os mototuristas. Que, ao longo das várias paragens em locais de marcante importância histórica e religiosa, foram pedindo ajuda divina para umas ‘abertas’ que permitissem guardar os fatos de chuva e desfrutar do passeio preparado pelo Moto Clube do Porto com importante apoio da MotoTrofa.

Evento que começou na sexta-feira, abrindo o Secretariado na sede do Clube Automóvel de Lamego – presidido pelo incansável Paulo Gonçalves e oferecedor de enormíssima ajuda na organização e realização do passeio – para permitir aqueles que, sobretudo viajando de mais longe, queriam aproveitar ao máximo um fim-de-semana muito promissor. Claro que, em grupo, recordando amizades e antecipando animação, houve tempo e ocasião para saborear as mais deliciosas joias gastronómicas da região do Alto Douro, do famoso Vinho do Porto ao excelso presunto, dos mais diversos enchidos e queijos, sempre acompanhados por excelentes vinhos durienses, até aos doces tradicionais saboreados na Presunteca, agradável espaço de obrigatória paragem em plena Nacional 2.

Momentos de grande diversão antecipando dia que começava cedo, com partida junto ao CTOE – Centro de Tropas de Operações Especiais, onde são formados os conhecidos ‘rangers’ de Lamego – com visita à Igreja de Santa Cruz, parte mais visível do Convento com o mesmo nome, construído para doação aos frades Lóios, em 1596 e que, desde a Extinção das Ordens Religiosas, em 1834, conserva a vocação militar. Primeira visita do dia que deu particular destaque ao amplo interior, de uma só nave, onde sobressaem o refinado trabalho em talha de ouro que ornamenta as capelas lareais e os azulejos seiscentistas com cenas da vida de Santo António de Lisboa e S. Bento de Múrcia. Momento histórico antecedendo os primeiros quilómetros, debaixo de chuva intermitente e algum frio, até à Ponte Fortificada de Ucanha construída pelos romanos e incluída numa estrada que por ali passava. Ponte que, no século XII, foi doada juntamente com o couto de Algeriz e o território de Ucanha por D. Afonso Henriques à viúva de Egas Moniz, Teresa Afonso, que por sua vez o doou ao Mosteiro de Santa Maria de Salzedas (que ela mesmo criara e que a caravana haveria de visitar mais tarde), acabando os monges por muito beneficiar da velha ponte, ali cobrando direitos de portagem aos que o rio Varosa queriam atravessar. Na precursora de ideias geniais que a ‘nossa’ Brisa haveria de aproveitar, foi possível apreciar ainda a exposição ‘Há Ir e Voltar’, da reputada fotojornalista Lucília Monteiro, uma das 4 iniciativas simultâneas integradas na 7.ª edição do Ciclo de Fotografia de Lamego e Vale do Varosa. E houve quem aproveitasse para um reforço alimentar, mesmo por baixo do arco da torre adossada à ponte em 1465 pelo Abade de Salzedas, D. Fernando, com queijos, compotas e enchidos devidamente acompanhados por deliciosos néctares, juntando alguns produtos locais a outros trazidos de casa, fosse de Paços de Ferreira ou de Coimbra.

Os rojões, os mosteiros e o espumante

Espécie de aperitivo para a grande surpresa que esperava os viajantes na Junta de Freguesia da Várzea de Abrunhais, onde o seu presidente, Carlos Rodrigues, introduziu excelente repasto, com suculentos rojões cozinhados em tradicional panela de ferro, capaz de surpreender o mais incauto dos estômagos, antes de agradecer ao Moto Clube do Porto a visita. Com digestão ajudada por um jogo de futebol (de matraquilhos…), tempo para rumar dois mosteiros que foram (e são!) marcos indeléveis da importância da Igreja em terras lamecenses. Em São João de Tarouca, a muita chuva que entretanto brindou a caravana, levou a duas tomadas de posição face à inclemência de S. Pedro: Houve quem prontamente seguisse viagem na esperança de encontrar adiante clima mais simpático, enquanto outros, aproveitando o resguardo proporcionado pela Igreja daquele que foi o primeiro mosteiro da Ordem de Císter em Portugal, apreciaram a riqueza do edifício de planta cruciforme e onde se mesclam elementos do românico e gótico. Sobreposição de estilos bem patente nas paredes de aspeto inacabado, deixando ver os arcos, colunas e capitéis da obra inicial começada em 1140 por debaixo das remodelações feitas durante o século XVI, altura em que o complexo monástico foi largamente ampliado com a construção de outros edifícios, com destaque para o imponente dormitório de dois pisos, de características únicas em Portugal. Entre as muitas explicações dadas pela D.ª Rosa Matias que, de forma simpática e explícita, ciceroneou o grupo, nota para as pinturas que encimam o cadeiral dos monges, representando figuras proeminentes da ordem cisterciense, nomeadamente diversos abades e papas, ou o túmulo do Conde D. Pedro.

Da mesmo ordem religiosa, o Mosteiro de St.ª Maria de Salzedas foi palco da paragem seguinte não sem antes olhar de soslaio para a muy antiga Vila da Rua e para a pouca cheia Barragem de Vilar, represa do rio Távora e repartida entre os concelhos de Sernancelhe e Moimenta da Beira. Construído no Séc. XII, o mosteiro de Salzedas foi ampliado nos séculos XVII e XVIII ganhando novo claustro, da Colação, desenhado pelo arquiteto maltês Carlos Gimach. Espaço de sóbria beleza, mas a que a intempérie e o cedo anoitecer conferiu ar apocalíptico, aconselhado rápida viagem até Lamego onde, ainda antes de animado jantar, houve tempo para descobrir as caves Raposeira, um dos mais conhecidos espumantes naturais portugueses (desde 1898), integrado na região vitivinícola Távora-Varosa. Do elaborado processo de fabrico aos extensos túneis de granito que conservam em ótimas condições naturais mais de 11 milhões de garrafas, tempo para conhecer a história de uma bebida que, afinal, é mais portuguesa do que se pensa, provando ainda o inconfundível sabor dado pelas bolinhas naturais.

Depois da tempestade… até ao almoço final

Após um primeiro dia verdadeiramente invernoso, em que a chuva parece ter abençoado as religiosas visitas a mosteiros e igrejas, escondendo, porém, as belas paisagens em quase impenetrável véu de nevoeiro e humidade, nada como um lindo dia de outono para rematar a edição de 2019 do À Descoberta, por Lamego. Céu limpo em verdadeiro ‘domingo de aleluia’, de um azul sorridente que ajudava a esquecer as baixas temperaturas, marcou um trajeto que alternou entre estradas míticas, como a N2 ou a 222, e serpenteantes troços através de florestas autóctones, de verdejante frescura e muita humidade. Condução entre o divertido ‘arredondar de pneu’ com que começou o dia pela N2 até à mais torneada estrada pela encosta rumo a S. Martinho de Mouros, com cautelas acrescidas ditadas pela terra e pedras que a intensa chuvada da véspera trouxe para o asfalto. Ali, na freguesia que foi sede de concelho entre 1121 e 1855 e que é uma das mais antigas do concelho de Resende, a Igreja de São Martinho de Mouros recupera do desgaste centenário da obra erigida no Séc. XII, justificando o investimento total de 123 473,55 euros na conservação e restauro de retábulos, teto, púlpito e esculturas testemunhado pelos participantes no evento do Moto Clube do Porto, mesmo antes de agradável reforço do pequeno almoço.

É que o almoço final – muito agradável no Restaurante O Paiva – ainda distava muitos quilómetros e pelo caminho estava prevista nova paragem, no Mosteiro de Santa Maria de Cárquere. E que só não foi maior porque na Igreja Paroquial, fundada no Séc. XII pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, era celebrado um batizado que apressou o regresso da comitiva a Lamego. Mas não sem antes apreciar o exterior, de base românica, da igreja que é apontada na Crónica de 1419, como local da milagrosa cura de D. Afonso Henriques que, por via da resolução da má formação nas pernas do que viria a ser o primeiro Rei de Portugal, D. Henrique, seu pai, ali mandou construir o Mosteiro. Ponto final do À Descoberta 2019, pleno de descobertas históricas e religiosas, gastronómicas e paisagísticas na recheada região de Lamego, com a excelente companhia dos amigos do Clube Automóvel de Lamego.

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