Doidice, multidão e rijidez de Vila Pouca ao Porto
Comprida, com nevoeiro e orvalho, foi uma noite do… catano, senhores ouvintes, esta 25ª edição dos Morcegos Henisa Cash & Carry, grande e participada passeata noctívaga que o MC Porto pôs na estrada na noite de 30 para 31 de julho, com forte apoio da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar.
Uma longa comitiva, muito diversificada, de 112 motociclistas, divididos por 93 participantes mais “desorganizadores”, em 77 motos, fez história nestes Morcegos comemorativos de quarto de século.
Os participantes não sócios bateram os sócios à tangente (46-45) e com origens muito diversificadas.
Desde há muito que o MC Porto termina estas passeatas nocturnas no Porto - ou perto - para facilitar o regresso à garagem e cama de cada um. Mas neste ano de 2016, foram mais os “estrangeiros” que os tripeiros. A saber, tivemos participantes de Abrantes, Alcobaça, Porto de Mós, Coimbra, Viseu, Monção, Felgueiras (um grupo grande), Penafiel (outro grupo razoável), Vale de Cambra (idem aspas), Paredes, Braga, Marco de Canaveses e Famalicão. Nossa senhora… E foram todos dormir a casa. Que a insónia vos proteja!
É que esta 25ª edição saiu do corpo. Num ano de comemoração de 30 anos de clube, valeu tudo. Mudou-se o figurino aos Morcegos e o evento teve 16 horas de duração, corridinhos e sem tempos mortos, com um total de 380 km bem sinuosos, visitas guiadas, duas entradas no subsolo, um jantar apertado e ambientes tão distintos como bailes adultos, bailes infantis, invasão de cavernas habitadas por homens de Cromagnon ou fugir aos defensores da Ponte de Amarante.
Mais, os “Morcegos” propriamente ditos tiveram sete horas de duração para 240 km de montanha, com muita nevoeirada a dificultar a transposição do Alvão e Marão.
Mas a boa disposição final, vivida ao amanhecer na Serra do Pilar em Gaia, mostrou que o esforço compensou.
Todos para Vila Pouca de Aguiar
Começando pelo início, as amizades proporcionam momentos bons e o entusiasmo que Vila Pouca de Aguiar tem pelo mototurismo acabou por nos atrair para este cativante território transmontano.
E assim, o MCP quis dar um toque cultural à morcegada. Quis mostrar o interior das galerias escavadas pelos romanos há 2000 anos em Trêsminas, túneis utilizados para extração de minérios e águas das imponentes minas de ouro a céu aberto. E, para tudo ter mais sentido, o clube desejou também levar os participantes ao novíssimo centro de Interpretação que muito bem mostra e relata todo o engenho romano de outrora.
Estes romanos são doidos
Assim, a caravana saiu compacta da Invicta pouco depois das 16h, após secretariado e brieefing na sede do MCP. Estreou oficialmente o Túnel do Marão e espraiou-se pelas estradecas da Vreia de Jales, com paragem junto ao Rio Pinhão. Estacionou em Trêsminas perante o olhar do vereador Duarte Marques da CM de Vila Pouca de Aguiar e dos entusiastas motociclistas locais e ficou logo ao dispor da técnica Patrícia Machado, cicerone que muito bem desvendou os segredos e truques que os inventivos romanos aqui desenvolveram há 2000 anos. Durante três séculos, estas foram as minas que mais ouro conseguiram para Roma.
Sempre com o relógio a ditar leis, a comitiva desceu as estradas transmontanas para a sede do concelho, estacionando na ExpoGranito. O jantar no restaurante David foi rápido, muito informal e bem apertadinho. Quase vinte comeram até na rua onde, por sinal, não se sofria da caloraça interior.
As energias foram repostas e pouco regadas que todos foram bem comedidos e resistentes à tentação da vinhaça.
E ao minuto, a caravana (sim, ainda todos juntos) despediram-se das pequenitas bailarinas que actuavam na ExpoGranito e subiram às Cortas, os tais buracos gigantes abertos a picareta e que ainda possuem várias galerias.
De capacete e lanterna, faltaram as galochas
Na escuridão da noite sem luar, na serra da Padrela, o grupo, ordeiro e disciplinado – e brincalhão, claro – dividiu-se em quatro, sob comando da “general” Patrícia. Os primeiros armaram-se de capacetes de obras e lanternas e desceram à Galeria dos Morcegos. Alagada à entrada, por sinal. E lá foram, curvados, a dar toladas no teto, pelo túnel de mais de 100 metros, a constatar as paredes aberta à força de braço há 20 séculos!
Morcegos, nem um. Só nós. E chega.
De novo cá fora, com um céu fantásticamente estrelado, às 23.30h, as equipas começaram a partir aos pares e ao minuto. Pela primeira vez com road-book a cores – Obrigado, Lidergraf, - e com autocolantes catitas nas motos. Obrigado, Mário Trigo!
Baile popular para Motociclistas de Neandertal
O percurso mandava subir à aldeia de Castelo e subir a pé ao Castelo de Pena de Aguiar, onde aguardava um bom reforço alimentar. Mas a falha elétrica na aldeia e monumento obrigou a improvisar.
Na aldeia mais abaixo, de Pontido, havia baile. Ok! É para aqui que vamos dançar e comer. E que bem soube, numa pracinha de casas graníticas, ramadas, população em peso e músicas das Doce.
O Parque de Lazer do Alvão e Village Camping ficaram no percurso, com algumas perguntas. E depois veio a rigidez da serra do Alvão. Portela de santa Eulália, Cabriz, Bobal, Pioledo, Ermelo e Rio Ôlo. Muita, muita curva. Estradas estreitas, a temperatura a baixar e o aborrecido nevoeiro a arrasar o sentimento panorâmico que se consegue respirar do alto destas estradas, mesmo na mais retinta noite.
Pelo meio, para acordar, uma fantasmagórica corrida dos lentos, sobre o Rio Poio. Mais bonito era difícil.
Chegados a Campanhó, o road-book mandava estacionar uns quilómetros depois, na berma da estrada, em plena serra. Aqui? Para quê?
As velas vermelhas indicavam o caminho, a pé, entre vegetação. Aceitando o desafio, os motociclistas caminharam sem lanternas, adaptando-se à falta de luz.
E surpreenderam-se com a entrada em caverna, onde uma mulher de Cromagno lhes oferecia apetitosos ossos para rilhar. Mas tinham de fugir para não serem engravidados por um homem de Neandertal. E ainda tinham mais um Flinstone à dobra, para não deixar baixar a guarda a ninguém. Nem faltou a fera ao ambiente milenar. Que medo…
Temos pena de ter poucas ou nenhumas fotos. Este evento é difícil de fotografar. Escreve-se com mais detalhe.
França 0 – Rambos 1
Sobreviventes, os motociclistas fizeram-se de novo à orvalhada. Alto do Velão, Campeã, Alto do Espinho e centenas de curvas da N15 até Amarante, terra onde o General Silveira defendeu heróicamente a Ponte sobre o Tâmega na segunda invasão francesa, em 1809.
Actualizados, os soldados de agora pareciam mais rambos, com pinturas faciais, lenços à cabeça, armados de facas e metralhadoras de água.
Ninguém escapou à esguichadela, testemunhada pelo Mosteiro de S. Gonçalo. Nem o incauto condutor de uma scooter, que teve o azar de lá passar às 4.30h da manhã. Local errado à hora errada. Também levou com o jacto na boca, quando se preparava para insultar de alto a baixo os mercenários do MC Porto.
Viva o MC Vale do Sousa
A madrugada ia longa. Mas ainda tinha duas horas de caminho pela frente. Os amigos do Moto Clube Vale do Sousa foram uns porreiraços. Mantiveram-se abertos e acordados até ao nascer do sol, servindo a cafeina que soube a poção mágica. Muito obrigado! A bonita sede, recuperação de uma antiga escola primária, fica à face da movimentada N15. Vale a pena visitá-la e dar um abraço aos motociclistas da região.
E Viva a D. Lurdes!
E faltava a estocada final, as muitas curvas de Penafiel a Entre-os-Rios, e daí ao Porto pela marginal do Douro. Um final bem motociclístico, culminado com o pequeno-almoço servido no panorâmico largo da Serra do Pilar, sobre a Ponte Luís I.
A D. Lurdes, indestrutível, uma vez mais esteve presente, pontual e esforçada, servindo a refeição com o patrocínio da Henisa Cash & Carry aos resistentes que iam estacionando diante do mosteiro.
Sim, resistentes porque cerca de 40% dos participantes foram sendo abatidos pelo sono e cansaço perante a dureza do passeio.
Passeio que continua a ser o de média de idades mais baixa anual (porque será?) mas que conta com muita veterania. Tivemos seis equipas de pais e filhos e até uma de avô e neto! Grande Abel, a mostrar à terceira geração como continuam bem malucos os patriarcas da família. A Carla Nunes foi a única condutora e que chegou ao fim toda sorridente.
A correcção das perguntas e inserção dos resultados de jogos e surpresas foram feitos rapidamente, antes que alguém caísse ao rio com o sono. Tão rapidamente que durante a entrega de diplomas, iam continuando a chegar os mais atrasados, pelo menos a tempo do mais importante, o chop-chop!
O pão e croissants quentinhos desta vez não foram servidos pela Isabel Araújo que, tal como a D. Lurdes, nos faz este favor gigante há 16 anos. Por motivos familiares, não tivemos o privilégio da companhia da Isabel. As aqui vai um beijinho para ela.
Vitória do Mondego para baixo
Sem grande surpresa, os mais regulares de toda esta gente foram participantes habituados aos moto-ralis turísticos, passeatas culturais que habituam os mototuristas a ter o olho atento.
Mais, foram três equipas “estrangeiras”.
O Fábio Cordeiro, de Porto de Mós, levou a “taça”: uma t-shirt dos 30 anos do MCP. O segundo lugar seguiu para Coimbra, para os nossos sócios Jorge Andrade e Xana Pina. Que por sinal foram organizadores do moto-rali dedicado a Alcobaça e que acabou por ser organização do MC Porto, em Abril. E o terceiro posto foi para os longínquos Jorge Martins e Alexandra Bandarra, de Abrantes, habituais participantes dos nossos À Descoberta.
Com foto de grupo bem emoldurada, os 25ºs Morcegos Henisa Cash & Carry terminaram com forte aplauso a todos e de todos.
Nunca mais ganhamos juízo!
Fotos do Participante Fábio Cordeiro