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Sucesso absoluto no regresso à estrada

Solidariedade, surpresas e até algum sol no Passeio de Natal… no Carnaval

Foi de festa o dia do regresso aos eventos de estrada do Moto Clube do Porto, depois de dois anos de cancelamentos e adiamentos. E logo numa mescla perfeita entre solidário espírito natalício e a folia própria da quadra carnavalesca. O Passeio de Natal… no Carnaval saldou-se por um sucesso a todos os níveis e nem o S. Pedro faltou com a tradição, garantindo bom tempo durante toda a manhã, em muito contribuindo para o melhor aproveitamento dos 150 quilómetros entre a Mototrofa e a Branda da Aveleira.
Uma centena de motociclistas, indiferentes às ameaças de chuva, zarpou, mesmo à horinha marcada, das instalações do concessionário Honda e BMW na Trofa, rumando ao Gerês. Uns quilómetros por autoestrada, até Braga, ajudaram a acordar e a ganhar tempo para melhor desfrutar, tranquilamente, das paisagens que o Parque Nacional Peneda-Gerês oferece. Uma paleta única de cores, do verde mais escuro ao verde água passando pelos tons entre o castanho e o dourado oferecido pela folhagem das árvores, os cinzentos-claros dos líquenes ou os cinza-escuros do granito lavado pelas muitas cascatas que por ali escorrem. Uma paisagem única cuja riqueza e variedade contribuíram para a classificação pelo Conselho da Europa, como uma das Reservas Biogenéticas do Continente Europeu, e pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Através da Mata da Albergaria foi possível desfrutar de uma calma única enquadrada pelo carvalhal secular, que inclui espécies características da flora geresiana como os Quercus robur e Quercus pyrenaica.
Um ecossistema de frágil equilíbrio que encheu os olhos e a alma, preparando para o aconchegar do estomago que estava preparado para a Portela do Homem. Ali mesmo, na fronteira com Espanha, onde o Gerês passa a designar-se de Xuréz. Momento de descontração aproveitado para trocar as primeiras impressões deste inovador Passeio de Natal, acompanhado de um café e de roscas de Melgaço junto a alguns dos marcos miliários que assinalam a passagem dos romanos por terras do Alto Minho.

Prazer para os olhos e para o estomago

Doçaria regional criada por Madalena e Fátima Barbosa, terceira geração de rosqueiras apostadas em manter bem vido o produto de um segredo com origens perdidas no tempo, símbolo da gastronomia das gentes festivas do Alto Minho, e que reforçou o doce arranque do evento. Sim, porque antes, ainda na Mototrofa, houve tempo e apetite para provar o Bolo da Trofa, ligação indelével ao tradicional Passeio de Natal… realizado em dezembro! Deleites gastronómicos que haveriam de continuar no restaurante O Brandeiro, em plena branda da Aveleira, não sem antes a caravana de 70 motos fazer a travessia espanhola do Parque Natural Baixa Limia, aproveitando para perceber, bem de perto, o problema causado pela ausência de chuva. Curta paragem para ver a aldeia de Aceredo, submersa desde 1992, quando terminou a construção do maior e mais potente produtor hidroelétrico em Portugal, e que a redução do nível de água do Rio Lima, represado pela barragem do Alto Lindoso, deixou agora completamente à vista. Aldeia fantasma que reavivou memórias de outros tempos e reforçou a preocupação com as alterações ambientais que estão a assolar o nosso Planeta.
Sempre com sol e uma temperatura agradável – é bom não esquecer que estamos em pleno inverno! – seguiu a caravana rumo a uma das muitas brandas de pastoreio existentes nas zonas mais altas da região de Melgaço. Era aqui, locais mais frescos, em altitude, que os pastores evitavam a canícula dos meses mais quentes do ano, aproveitando os pastos mais férteis para alimentar os rebanhos. As brandas reuniam núcleos habitacionais temporários, típicos do antigo modo de vida em transumância, sendo a da Aveleira usada desde o século XII.

Se uma aldeia morre… outra renasce

A recuperação da aldeia e a abertura de um restaurante amplo, com vistas desimpedidas sobre uma paisagem retumbante, atrai muitos turistas, desejosos de desfrutar da natureza, encontrando cavalos selvagens, eventualmente cabras-montesas (Capra Pyrenaica) e, claro as vacas de raça Cachena. De pequeno porte, mas com enorme capacidade de resistência às condições mais adversas, são vistas a pastar em grupo, muitas vezes em regime semisselvagem, em áreas amplas e comuns. Uma alimentação equilibrada, sustentada nos pastos naturais e no clima, que garante características inigualáveis aprovadas e elogiadas pelos comensais. E que, sem que muitos dos participantes se apercebessem, fizeram cuidada inspeção às motos estacionadas mesmo ao lado do restaurante.
Viajantes que puderam ainda provar os sabores dos Queijos Prados de Melgaço, de fumeiro caseiro, do típico bucho doce, bolo que era feito com bucho de porco em exclusivo nesta região, e, claro, das rabanadas típicas do Passeio… de Natal. Descoberta gastronómica acompanhada pelos vinhos daquele que foi, em 1982, o primeiro produtor de alvarinho registado em Melgaço e que é referência incontornável do sector. Dá pelo nome Soalheiro e, na terceira geração da família, mantém imutáveis valores qualidade e inovação que, além de vinhos (frutados, minerais ou naturais), espumantes e aguardantes, estão patentes na variada gama de infusões biológicas, adequadas a todos os estados de espírito. Espíritos que foram ainda animados por uma boa surpresa musical, com as concertinas extremamente bem dedilhadas por três jovens, incluindo músicas pedidas.
Chás que ajudaram a encerrar uma agradável refeição, servindo de acompanhamento de eleição ao momento mais marcante deste Passeio de Natal… no Carnaval, revelador do melhor do espírito solidário que grassa no seio motociclístico. Um leilão, divertido e profícuo, para ajudar a recuperação do Martin e minimizar as dificuldades e sofrimento atravessado pela família do jovem que, desde dezembro de 2020, está impossibilitado de ter a vida que merece qualquer miúdo de 11 anos. Um atropelamento de comboio deixou-o impossibilitado de uma vivência normal e só a indomável resiliência da família tem conseguido manter viva a chama da esperança. Chama que o Moto Clube do Porto, com o inestimável apoio da Mototrofa e da NEXX, quer manter acesa e que motivou uma enorme onda de solidariedade por parte de todos os motociclistas presentes. Capacetes, botas, blusões, mochilas e buff’s (golas) transformados em muitos euros que serão entregues à família do Martin, O Guerreiro. Juntamente com o carinho de todos.
Porque esta família motociclística preocupa-se com quem mais necessita e não vira as costas em momentos de dificuldade.

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