...comer de tudo sem ir ao restaurante
Rota dos Sabores 2019 MCP/Antero mostrou delícias de Vagos a Ílhavo, da Ria de Aveiro ao Oceano Atlântico
Desafiar o marasmo de um verão que teima em ‘não dar a cara’, descobrir novos aromas e paladares, dos doces artesanais aos mais inesperados salgados, passando pelo acre de cervejas artesanais ou pela frescura dos sumos naturais; ir até à praia e ver como se pesca o peixe mais fresco, comer ao ar livre em ambiente absolutamente descontraído, conhecer melhor a história da pesca do bacalhau ou aprender a elaborada arte de fazer sal foram razões que deram outra sabor a um domingo bem passado na Rota dos Sabores 2019 MCP/Antero.
Saudado regresso à Ria de Aveiro, inesgotável fonte de descoberta e surpresas, que começou nas generosas instalações da Antero, bem conhecido concessionário nos Carvalhos, com tempo para, além de provar as já famosas natinhas e do ‘obrigatório’ café, conhecer algumas das novidades das gamas da BMW, Yamaha, Kawasaki, Benelli, Vespa, UM, Suzuki e outras, além dos mais recentes equipamentos dos mais conceituados fabricantes, da Dainese à Shoei, da Spidi à Touratech ou da AGV à BMW.
Um rápido briefing para recordar, em traços gerais, a estrutura do passeio e relembrar a melhor forma de viajar em grupo, e tempo para as 60 motos arrancarem rumo ao concelho de Vagos, com a primeira paragem nas margens do Rio Boco, em local conhecido por Folsas Novas e onde existe um cais para os moliceiros. Aí, a centena de participantes pôde descobrir o história da apanha do moliço, bem contada pelo presidente da Junta de Freguesia de Fonte de Angeão e Covão do Lobo, Albano Gonçalves, e pelo guia da CM de Vagos, Pedro Bento, e perceber o trabalho levado a cabo pela autarquia vaguense para dotar a frente lagunar das melhores condições para usufruto dos visitantes, permitindo uma ligação de qualidade com a Ria. Preocupações que se estendem, de forma óbvia, à proteção do ecossistema, defendendo valores ambientais ao nível da fauna, flora e paisagem natural, além de contribuir para minimização dos efeitos da erosão causados pela força das correntes no antigo cais de atracagem de moliceiros é outro cuidado de estrutura que integra percursos de sensibilização ambiental e de contemplação paisagística.
Obra bem necessária para recuperar a visibilidade de importância de Vagos que, na Idade Média, era denominação da única porta a Sul das Muralhas de Aveiro, pertencendo à antiga Comarca de Esgueira. A vila de Vagos recebeu foral de D. Manuel, em 1514, na altura em que Soza era sede de Concelho, situação invertida pela Reforma Administrativa de 1853, passando então a integrar o Concelho de Vagos.
E porquê esta referência a Soza?...
Local de serena contemplação, cenário perfeito para a degustação das diferentes formas de confecionar a abóbora na gastronomia desta região, com enorme simpatia das confreiras Fátima Rito, Rosa e Ana, da Confraria dos Sabores da Abóbora. Que procura ainda divulgar as tradições e a cultura próprias da vila de Soza, principalmente as características Papas de Abóbora de S. Sebastião, durante os festejos no fim de semana imediatamente a seguir ao dia 20 de janeiro. Mas que podem, ainda em 2019, podem ser apreciados na Feira da Abóbora, de 21 a 23 de setembro, oportunidade para regressar e degustar o famoso pitéu porque durante a Rota dos Sabores 2019, o palato esteve concentrado na prova das queijadas de abóbora, na broa mimosa e na compota de abóbora, acompanhados por um saboroso ‘café de borra’.
Estômago aconchegado siga para a Vagueira
Satisfeitos com a tradicional cafezada e docinhos, havia que queimar calorias e vai daí foi a caravana até à praia da Vagueira, onde a Câmara Municipal de Vagos ofereceu breve introdução à arte Xávega, com a vereadora Susana Gravato a transmitir, com enorme entusiasmo e apurado conhecimento, a importância, o heroísmo e todo o simbolismo da antiga arte de pesca à rede. Com os pés bem assentes na areia, mesmo junto ao barco que, horas antes, tinha chegado carregado de peixe, todos ouviram com atenção, colocando questões e desfazendo dúvidas, antes de conversar com os pescadores e descobrir mais algumas histórias da faina. E, desde logo, ficou o convite para o regresso. Não só à praia da Vagueira, como, mais importante, à arte Xávega! Isso mesmo!!! Um desafio para conhecer, ‘ao vivo e a cores’, a dificuldade desta pesca de costa, lutando por conseguir o próprio peixe que depois será cozinhado ali mesmo, junto ao mar…
Em terra de bacalhau, as 1001 formas de o cozinhar
Aroma a grelhado de peixe fresquíssimo que apressou a caravana até ao Jardim Oudinot, espaço arborizado e relvado junto de um dos canais da Ria de Aveiro que permite todas as atividades ao ar livre – incluindo agradáveis piqueniques – além da possibilidade de desfrutar da praia fluvial. Foi o local do almoço volante, assente, claro está!, nos muitos petiscos de bacalhau, obra da boa cozinha tradicional do Restaurante Fortaleza que simpaticamente se deslocou desde São João de Loure. Pataniscas, bolinhos, punhetas e salada de grão com o dito ou uma fabulosa sopa de bacalhau foram pitéus, sempre acompanhados por padas, pão com bacalhau (pois claro!) e pão com chouriço confecionado pel’Os Baldas bem como com as cervejas artesanais Da’Borda criada na Gafanha e Mikas, feita à base de trigo. Petiscos que deixaram todos satisfeitos, se não mesmo empanturrados, e quase sem arcaboiço para o tradicional arroz doce. Claro que, para os mais cuidadosos com a linha, não faltou enorme variedade de frutas laminadas, com a digestão a ser feita em passeios pelo maior e melhor parque ribeirinho da Ria de Aveiro, jardim inaugurado em agosto de 2008 em importante reabilitação da zona.
Um museu sobre as águas da Ria
E onde, além da ponte medieval, de tabuleiro plano e quatro arcos, que antigamente era bem maior, ligando Ílhavo ao Forte da Barra, foi possível visitar o Navio Museu Santo André, talvez o mais importante ex-libris de Ílhavo. Fabricado na Holanda em 1948 era, à época, o arrastão mais moderno do Mundo, com 71,4 metros de comprimento e um porão que chegava às 1200 toneladas de peixe. Mas, nos anos oitenta, e com as restrições à pesca nas águas exteriores impostas pela União Europeia, a frota marítima em Portugal foi reduzida, acontecendo o abate da maior parte desta em plano em que este navio estava incluído. Contudo o armador, juntamente com a Câmara Municipal de Ílhavo, resolveram unir forças e fizeram deste navio um museu para as gerações vindouras, podendo assim mostrar como foram as pescarias de arrasto e preservando a memória de quem aqui trabalhou, e de toda a classe, durante o meio século de atividade
E para terminar nada como uma ida ao Spa…
Forma de vida intrinsecamente ligada à Ria, o sal foi, durante séculos, bem extremamente precioso para as gentes ilhavenses e aveirenses. Foi e continua a ser! Por isso, no final da descoberta desta região não podia faltar a visita às salinas, agora de atratividade exponenciada pela Cale do Oiro. E onde foi possível conhecer o processo de extração do sal, com ajuda do profundo conhecimento do nosso guia de serviço por terras de Vagos e Ílhavo, Gabriel Conceição – a quem deixamos um sentido agradecimento –, conhecendo ainda a fauna e flora locais. Sobretudo dos pernilongos, ave limícola com nome científico de Himantopus himantopus e que mais parece uma cegonha em miniatura, e da salicórnia, planta halófita, de enorme potencial a nível alimentar como em tratamentos terapêuticos. E enquanto uns caminhavam pelas motas (não as de duas rodas, mas os muros que delimitam e protegem as marinhas…) outros continuam a descobrir sabores e a comprar ‘crackers’ de vários sabores da Tesouros da Ria, provar ovos moles, raivas, conservas de bacalhau assado, Licor de Aveiro e diversos outros produtos que podem ser encontrados e encomendados na loja do Zeca. Em tempo de despedidas, o grupo recebeu ainda a simpática visita de João Campolargo, o incansável presidente da Junta de Freguesia de S. Salvador - Ílhavo, que tão bem nos recebeu também no Jantar de Natal.
Só foi pena que o nevoeiro que encobriu a zona costeira ao final de tarde tenha escondido não só o sol que acompanhou a caravana ao longo de quase todo o dia, mas também diluído a coragem de desfrutar de banhos salgados muito especiais, no Salinário. Verdadeiro Spa que proporciona experiência única graças à elevada concentração de sais, superior à agua do mar, aproveitando as propriedades terapêuticas do sal marinho que ajudam a melhorar casos de má circulação de sangue, tratamento de psoríase e hidratação da pele. Fica para outra ocasião até porque, ao passar pela loja, onde a enorme variedade de artigos feitos a partir do sal ali recolhido pelos marnotos não deixou ninguém indiferente, muitos levaram também o cartãozinho da casa para regressar. Porque essa é uma das apostas da Rota dos Sabores MCP/Antero, mostrando locais, paladares e experiências menos conhecidos – ainda que, tantas vezes, estejam ali mesmo, à mão de semear… – para que os mototuristas possam voltar, com os amigos e família, desfrutando dos muitos atrativos de um Portugal tão rico, tão nosso.