… Depois do agradável Passeio de Natal MCP/MotoTrofa até Ílhavo,
onde não faltou o bacalhau e boas prendas antes de conhecer Os Baldas
Com a fasquia muito elevada pelo sucesso de anos anteriores, o Passeio de Natal que tradicionalmente junta sócios de Moto Clube do Porto e amigos da MotoTrofa regressou, em 2018, com expetativa redobrada e promessas de mais um dia bem passado. O programa era apelativo e nem o sebastiânico nevoeiro intimidou os 71 participantes que, manhã cedo, saíram da Trofa rumo a Ílhavo, antes reforçando a mística no arranque das 50 motos. Primeiros quilómetros, de grande tranquilidade graças ao apoio dos ‘condutores de caravana’ José Barros, Carlos Ribeiro, Paulo Beigel e Carlos Gomes, atravessando o Porto com primeiros vislumbres do céu azul que haveria de acompanhar a caravana na rápida viagem por autoestrada até Cortegaça, desfrutando depois da idílica Mata do Buçaquinho na ligação até ao Furadouro. Onde a Ria de Aveiro passou a ser festejada companhia, com paisagem de grande serenidade, aproveitando o céu limpo na tirada até São Jacinto.
Tempo para a primeira surpresa do dia, com inusitada e exclusiva travessia fluvial no ferry da Aveiro Bus, repleto apenas com as motos do Passeio de Natal, trazendo à memória as passagens para Marrocos ou para as ilhas mediterrânicas. Viagem curta mesmo depois de uma paragem para dar prioridade a um gigantesco navio cargueiro que entrava no porto de Aveiro e que (além da imponente dimensão…) apresentava-se pela direita.
Sempre com sol a dançar em brilhantes reflexos no espelho de água da ria de Aveiro, altura para a primeira paragem do dia, no complexo da Vista Alegre, com direito a especial receção na sede do Sporting Clube da Vista Alegre, agremiação fundada em 1952 com total apoio da administração da fábrica de porcelana e cuja equipa principal joga na divisão de Elite do Campeonato Distrital da Associação de Futebol de Aveiro. Com a ‘casa’ colocada à disposição e recebidos por um dos diretores do clube, Paulo Matos, momento para dar seguimento a uma das características peculiares dos Passeios de Natal, com a prova de cerveja artesanal Armazém da Alfândega, produzida pelos irmãos Gabriel e Luís Conceição com recurso a ingredientes inesperados como a salicórnia e algas. Cerveja ‘blond ale’, de 5,5 %, com muito agradáveis sabores marinhos, e que ‘casou’ na perfeição com as crackers da Tesouros da Ria, marca de produtos artesanais com recurso exclusivo a ingredientes provenientes da Ria de Aveiro. Algas, flor de sal, salicórnia e gramata branco, rigorosamente selecionados e habilmente conjugados pela mestria de Inês Bola resultam em crocantes aperitivos que rapidamente ‘viciaram’ a caravana que não resistiu em encher as malas das motos com bonitos pacotes de Ceboleiro, Marmoto, Cagaréu, Varina, Pescador e Tricana, variantes que, em função dos ingredientes, homenageiam as figuras típicas da região.
De paladar estimulado pelas provas, seguiram os participantes para a primeira etapa cultural do passeio, com visita guiada à belíssima Capela da Vista Alegre ou, para ser mais preciso, à Capela de Nossa Senhora da Penha de França, classificado como Monumento Nacional, mandada construir pelo bispo D. Manuel de Moura Manuel em finais do século XVII e a que foram acrescentadas as duas torres por obra de José Ferreira Pinto Basto, fundador da Vista Alegre, quase dois séculos depois mas ainda de acordo com o projeto inicial. Mais do que as rigorosas e elegantes linhas exteriores, perfeitamente enquadradas no conjunto arquitetónico da Vista Alegre, foi a rica e variada decoração que espantou os visitantes. Da Árvore de Jessé pintada na abóboda do berço, ao altar em talha de madeira domada de estilo barroco passando pelos altares laterais de talha dourada, azulejos setecentistas do espanhol Gabriel del Barco, ou a estatuária em mármore. Além do mausoléu realizado em pedra de Ançã do bispo de Miranda e reitor da Universidade de Coimbra, que aqui tinha uma quinta, onde sobressai a estátua jacente de D. Manuel de Moura Manuel, encomendada a um famoso escultor francês Claude de Laprade. Além da ricamente decorada sacristia!
De museu em museu até ao bacalhau. À mesa e no aquário…
E, sem perder tempo, segunda aula de história, com a visita aos quase dois séculos de vida da Vista Alegre ao longo das 14 salas do recheado e muito interessante museu antes da passagem pelas várias lojas do grupo, em momento tão agradável e entusiasmante para as senhoras do grupo que não foi fácil juntar todos os participantes para rumar ao desejado almoço.
No Hotel Plaza de Ílhavo, em ampla sala com airosa vista para a piscina, agradável repasto onde o bacalhau (com broa) foi rei. Acompanhado de batatas a murro e grelos, antecedido de variadas entradas, seguido de fruta e doçaria da época e sempre regado por deliciosos néctares ou outras bebidas. Bem instalados e em agradável cavaqueira, os passeantes foram então surpreendidos com o generoso espírito natalício dos irmãos Isabel e Francisco Silva, sócios da MotoTrofa, que ofereceram a cada motociclista um ‘gordo’ cheque-prenda para utilizar em compras de equipamentos ou acessórios no conhecido concessionário da Trofa. Surpresa gigantesca em que a maioria nem queria acreditar, tanto mais que valor era muito superior ao preço da inscrição no Passeio de Natal MCP/MotoTrofa!
Com o muito aplaudido discurso do prestável e simpático presidente da Junta de Freguesia de S. Salvador – Ílhavo, João Campolargo, terminou o repasto, com a digestão facilitada pela visita ao Museu Marítimo de Ílhavo, começando pela Sala da Faina Maior onde foi possível comprovar as difíceis condições da faina bacalhoeira nos mares da Terra Nova e da Gronelândia, para logo de seguida ‘jogar às diferenças’ entre os diversos tipos de barco que percorriam a Ria de Aveiro, do moliceiro ao mercantel, passando pelas várias bateiras. Ligação fortíssima dos ílhavos à ria e ao mar explicada através de inúmeros artefactos e ferramentas e acompanhada por coleções diversificadas, das algas marinhas ao vastíssimo ‘catálogo’ de malacologia com conchas de todo o Mundo, além de vidros e porcelanas da Vista Alegre, pintura, escultura e desenho.
Mais um momento cultural que reabriu o apetite para… meter a mão na massa. Nas instalações da Associação Cultural e Recreativa Os Baldas, oportunidade para tender a massa que dá um sabor único às famosas padas de Vale de Ílhavo e meter ao forno, também, o pão com chouriço que serviu de lanche a toda a comitiva. Oportunidade para ver e ouvir entusiasmantes relatos na primeira pessoa de quem há décadas faz o pão, como a Dona Maria Fernanda Duarte ou o principal dinamizador da agremiação, João Torrão, antes de provar o resultado da aventura padeira a que se juntou delicioso folar de Vale de Ílhavo, aconchegando o estomago para o regresso a casa, depois de um dia deveras interessante, onde o bom tempo, amizade e companheirismo ampliaram o prazer da descoberta mototurística.