Boa mesa, grande monumentalidade e honras presidenciais
Prometeu-se e cumpriu-se. O Passeio que o Moto Clube do Porto idealizou ao concelho duriense de Tabuaço – a aldeia de Granja do Tedo era “apenas” um dos muitos locais a visitar – foi o tal dia em cheio e intenso de visitas, diversidade de temas, excelente almoço e muito património edificado e natural, para 40 motociclistas em 27 motos, no último dia de inverno de 2016, o sábado 19 de março.
A estação despediu-se a seu jeito, com fortes chuvas matinais e um céu cinzento que queria parecer arruinar a boa disposição deste grupo pequeno, mas valente, que se mandou para as estradas da Régua sem temor aos arrufos do S. Pedro.
A estrada molhada obrigou a mais cautelas e os horários começaram a ficar apertados. Mas sem problemas, pois os anfitriões foram todos de grande disponibilidade e sensibilidade para o grupo. Na Quinta do Seixo, no S. Pedro das Águias, na Câmara Municipal de Tabuaço, no Restaurante Tábua d’Aço e ainda na aldeia de Barcos. Ora com cinco recepções assim, foi com sorrisos de orelha a orelha que a caravana completou o programa na tal localidade granjeada por D. Theodom e regressou pelas estradecas de Goujoim e Armamar, já com o pôr o sol.
Equipa de contadores de histórias
Mas vamos por partes.
Quinta do Seixo: as nossas motos rolaram dois quilómetros desde que passaram o portão desta quinta da Sandeman, quase no Pinhão, até estacionarem junto à recepção. Aí, a nossa guia, de chapéu e capa como o “homem da capa negra” levou-nos por uma visita às escuras, entre o moderno e o nostálgico, mostrando como se produz o Vinho do Porto, entre cenografias bem concebidas. O filme final no lagar surpreendeu pela maneira como termina. A prova de vinhos tendo o Douro Vinhateiro como fundo soube muito bem! Muito obrigado.
Subindo as curvas ao longo do Távora, a vegetação mediterrânica bem mantida do vale ganhou misticismo com os aguaceiros que caiam.
E o minúsculo mosteiro românico de S. Pedro das Águias ainda aumentou esse carisma. António Ribeiro - antigo presidente da Junta da extinta Freguesia de Granjinha - fez o favor de acelerar o seu almoço para dar uso à enorme chave de que é portador e abrir-nos o templo, construido contra as rochas, para segurança dos monges.
E o momento foi curioso. Em silêncio, o grupo ouviu-o atentamente mais às suas explicações de como a população está envelhecida. A minúscula aldeia já teve 40 alunos na escola e agora, com os seus quase 60 anos, António Ribeiro é o quarto mais jovem desta povoação. As pingas grossas caiam entre as oliveiras e o grupo memorizou o relato, narrado sob pedras talhadas há mil anos.
De seguida, um mata bicho que o MC Porto trouxe nas motos enganou o apetite e a comitiva voltou a subir uns quilómetros até à sede do concelho.
É que o Senhor Presidente da Câmara, Carlos Carvalho, aguardava-nos no salão nobre. A molhar os estofos das cadeiras, os motociclistas apreciaram a conversa. Jovem e eloquente, o autarca deu as boas vindas ao MC Porto e também transmitiu as dificuldades do envelhecimento da população. Talvez uma jazida de tunsgténio salve o concelho. Veremos. Distinguiu o clube com livros e vinho e ofereceu novo mata-bicho. Muito obrigado! A foto na escadaria dos Paços do Concelho fica na história!
Chefe austríaco, paladares portugueses
E a 500 metros morava o Restaurante Tábua d’Aço. Chegamos com 15 minutos de atraso e um apetite descomunal.
A mesa estava bem posta e finalmente o céu começou a dar mostras de azul, apreciado pelas longas janelas da sala, viradas para o Douro. Assim, sim! Foi comer e conviver de uma forma acima do normal, pela qualidade dos paladares que Thomas Egger – o primeiro green chef português – aplica nos seus pratos e pela simpatia contagiante que espalha pelos clientes. Que rica almoçarada, de bacalhau com broa na telha. Até foto de grupo se tirou, para que possa também vir a figurar no “corredor da fama” do restaurante! Muito obrigado, Thomas, Fátima e demais equipa do Tábua d’Aço!
Reliogiosidade em Barcos
E já dentro da hora, com uma tarde sorridente e barrigas felizes, a caravana estacionou diante da igreja de Barcos, monumento nacional. Bem guiados por Clara Martins, do Turismo de Tabuaço, descobrimos os interiores muito trabalhados da quase milenar igreja e os segredos da sacristia. E ainda de episódios rocambulescos como o de Maria Coroada e da Mulher Homem, personagens de Granja do Tedo e que em meados do séc. XIX puseram a cabeça em água aos seus conterrâneos. Frutos do isolamento das povoações destes vales abruptos e esquecidos a sul do Douro.
E foi com um passeio digestivo de 40 minutos em Granja do Tedo que o programa se findou. Entre casario antigo, bucolicismo e pontes românicas, a caravana subiu a Goujoim – que ermo… - e a Armamar para um inevitável abastecimento e rumo tranquilo, compacto, eficiente e sem estória por autoestrada até ao Porto, onde se chegaria após as 20 horas conforme previsto.
Grande dia.
Obrigado a todos pelo ambiente que se viveu, aos anfitriões, à CM Tabuaço e seu autarca mor, e ainda à patrocinadora Henisa Cash & Carry!