24.º Moto Rali do Moto Clube do Porto abre Troféu Nacional FMP em Penamacor
Está de regresso o mais animado ‘campeonato’ das duas rodas! Aquele em que a velocidade furiosa é substituída pelos jogos mais divertidos, onde a atenção na procura das respostas corretas vale mais pontos do que as travagens no limite, uma competição árdua em que as disputadas ultrapassagens são trocadas por enormes gargalhadas, quando a subida ao pódio é motivo para gigantesco convívio gastronómico. Criador do conceito ‘motorraliano’, onde mototurismo rima com descoberta, em que convívio e gastronomia andam de mãos dadas, quando o prazer de andar de moto proporciona o conhecimento de cada região ou concelho atravessado, o Moto Clube do Porto organizou, em Penamacor, a etapa de abertura do 22.º Troféu Nacional de Moto Ralis Turísticos FMP 2018. Dois dias ‘Pela Beira Baixa e mais além…’, visitando todas as 9 freguesias do concelho pertencente ao distrito de Castelo Branco, da União de Freguesias de Águas, Aldeia do Bispo e Aldeia de João Pires até Vale da Senhora da Póvoa passando por Aranhas, Benquerença, UF de Pedrogão de S. Pedro e Bemposta, Meimão, Meimoa, Penamacor e Salvador.
Em evento que mostrou a riqueza histórica e paisagística da região raiana, habitada desde tempos imemoriais, a partida frente aos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Penamacor, sob agradável clima solarengo, não deixava adivinhar a surpresa da primeira paragem anunciada no ‘road-book’. Surpresa de monta na visita à Ibersaco, empresa de cariz vincadamente familiar, gerida por Armindo Borges acompanhado pelos 3 filhos, irmãos e genro, e que, mais do que pelos 85 a 110 mil sacos de ráfia e polipropileno que produz diariamente ou pelos 7 milhões de euros de faturação anual, se destaca por uma filosofia ímpar. Fortíssima aposta na motivação do trabalhador e enorme cuidado social são palavras de ordem em empresa onde não há relógio de ponto mas existe um completo ginásio para usufruto de todos os 37 colaboradores, tratados pelo ‘patrão’ como verdadeiros familiares. Onde não há ordenados abaixo dos 1000 euros e até é feita uma viagem anual de férias, a expensas da Ibersaco, onde todos recebem um envelope com boa ajuda para as despesas pessoais em locais como Marrocos, Turquia, Itália ou nos Picos da Europa, em Espanha.
Apologista do máximo bem-estar do trabalhador, que acaba por ser a fórmula principal para o incremento de produtividade, Armindo Borges falou com tanto entusiasmo sobre a empresa, respondendo a todas as questões e explicando todo o processo de produção de sacos para ração animal, para arroz, farinha de trigo, açúcar ou para a panificação que quase ditou atraso dos participantes para a encontro com o bispo. Mas, ainda antes da paragem na Aldeia do Bispo para o ‘beija-mão’ ao alto dignatário do clero e absolvição de todos os pecados com a oração do Pai Nosso Motorraliano, tempo para a visita ao Museu da Bemposta e a surpresa de um controlo horário secreto, em Águas, onde além da atenção dos participantes era exigido pagamento de uma ‘portagem’. Valor que foi transformado em apoio solidário à Fundação Instituto Social Cristão Pina Ferraz, casa que acolhe jovens e crianças em situação de perigo. Em tempo de (moto)-rali, tempo ainda para a descoberta da origem do ‘pai dos ralis de todo-o-terreno’ em Portugal, com passagem na casa de José Megre, também em Águas, ele que foi o primeiro português a aventurar-se no Rali Paris Dakar, no início da década de 1980.
Mas, numa região onde a desertificação é contrariada por histórias ímpares de sucesso empresarial e humano, de coragem e mudança, abandonando o conforto das grandes cidades pelo ‘luxo’ do tempo e tranquilidade que só se encontra em locais como a Aldeia de João Pires, nota para ‘jovens indomáveis’ que gerem o bem público, à frente das juntas de freguesia ou dinamizando outras atividades sociais e filantrópicas. Como a banda filarmónica sedeada na pequena aldeia e que, ao jantar, haveria de proporcionar espetáculo de enorme qualidade, com um reportório variado interpretado a preceito pelos muitos jovens da Sociedade Recreativa Musical União Aldeia de João Pires e onde não faltou muito aplaudido ‘medley’ de tributo aos Xutos e Pontapés.
Histórias de abnegação que continuaram em Aranhas onde se chegou através de um fabuloso caminho rural que trouxe a bem-disposta caravana desde Salvador, e onde se assistiu ao mais hilariante penalti da história do futebol português. A ideia era, simplesmente, marcar um golo numa baliza de andebol chutando com o pé uma bola de… râguebi. Mas a tarefa foi rapidamente complicada pelo incorruptível árbitro de visão muito debilitada, obrigando a dar meia dúzia de voltas sobre uma bengala antes de tentar o pontapé. Resultado, foram mais os que se atiraram ao chão do que a bola à baliza, em momento de gigantesca diversão que motivou grandes discussões futebolísticas à mesa, apenas caladas pela substancial e soberba sopa de grão, com carne, chouriço e massa. Aperitivo para o ‘almoço’ no Moinho do Maneio, turismo rural de eleição gerido pela Anabela e Rui Marcelo, também eles rendidos ao chamamento da natureza em detrimento da atarefada vida citadina, trocando Lisboa pelas margens do rio Bazágueda. E onde, além dos acolhedores quartos, é possível desfrutar de uma experiência única, apreciando o brilho das estrelas numa noite passada na Bolha, mesmo junto ao local que serviu de palco para demonstração da pontaria dos arqueiros de ocasião, tentando, sem sucesso, acertar numa maçã a poucos metros de distância. Prestação tão sofrível que o próprio Guilherme Tell deitaria as mãos à cabeça…
Dos romanos aos linces… na praia
Barriguinha composta com deliciosos grelhados e a boa doçaria da região, nada como voltar à estrada para a digestão em viagem abruptamente interrompida por um… soldado romano! Defensor da ponte sobre a Ribeira de Meimoa, com nove arcos de diâmetro diferenciado, construída no período Filipino e que de romana apenas conserva a lenda da fundação, e curioso com uma questão que valia pontos importantes para aqueles que levam a competição mais a sério. Para todos a possibilidade, logo a seguir, de conhecer hábitos e costumes das populações locais, dos ancestrais tesouros arqueológicos até produção de azeite, vinho e pão tempo na visita ao Museu Dr. Mário Pires Bento. Pão que foi essencial na dieta alimentar local até aos anos ’70 e cuja confeção, de forma tradicional, foi por todos experimentada no forno comunitário da Sr.ª da Póvoa antes de prova que revelou sabores únicos, sublinhada na visita a forno com as mesmas funções em Benquerença.
Pelo meio encontro muito especial com o animal mais representativo da região e o felino mais ameaçado do Mundo, o lince-ibérico, com um espécime ainda mais raro (o XULince) saído da Reserva Natural da Serra da Malcata em aventura até à Praia Fluvial de Meimão onde divertiu os concorrentes com mais uma pergunta secreta. Doses de acrescida diversão oferecidas ao logo de todo o dia, com repetição na Praia Fluvial do Moinho de Benquerença, onde um nadador-salvador selecionava os banhistas mais despachados na sempre exigente tarefa de transportar todos os artefactos necessários para um dia de praia.
Com risadas que ajudaram a esquecer o único aguaceiro do dia, seguiu o pelotão a maratona das freguesias penacovenses, passando pela capela de Nossa Senhora do Pilar, pela igreja e pelo Santuário da Sr.ª da Póvoa, pela sede do Grupo Motard Os Cágados e pela capela da Sr.ª da Quebrada, rumo ao Palace Hotel & Spa – Termas de S. Tiago a tempo de aproveitar as fantásticas instalações termais e serviços. Tempo de recuperar a forma (e o apetite…) para o animado jantar, com direito a atuação da banda filarmónica, abrilhantando momento que contou com sorteio de imensas ofertas da CM de Penamacor e dos diversos patrocinadores, com destaque para as reputadas facas da ICEL.
Surpresa da descoberta em modo concentrado
Bem mais curta, a segunda etapa concentrou-se no interior de Penamacor, na descoberta de um património inusitado, acompanhado de agradáveis surpresas da ‘Vila Madeiro’. Do Convento de Santo António até ao Museu Municipal, que, com acervo variado mostrado de forma simples, intuitiva e rápida, permitia conhecer a milenar história da região, passando pelos jogos tradicionais do ‘lançamento da sameira’ (ou carica conforme a região do País) e visita às capelas da Sr.ª da Conceição e de S. Domingos. Local onde se realiza a procissão do Senhor dos Passos e onde um exigente frade atestava a boa fé dos participantes enquanto uma curvilínea freira recebia as oferendas dos fiéis dos moto-ralis. Que, terminada a curta mas trabalhosa etapa, seguiram em caravana para o almoço final, em Meimoa, momento de agradecimentos e entrega de prémios, de sorteios e despedidas. Nota para as equipas ‘Olivença é Nossa’ (Vítor Olivença), ‘Vitamina K’ (João e Carla Krull) e ‘Tá-se Bem’ (Rui Oliveira e Vera Cardoso), que ocuparam os três primeiros lugares do evento organizado pelo Moto Clube do Porto, em muito elogiada etapa de abertura do Troféu Nacional de Moto Ralis e que elevou a fasquia para os restantes cinco eventos que compõem o calendário, a começar pelo 23.º Moto-Rali dos Motards do Ocidente. Que, nos dias 12 e 13 de maio, lança desafio para ir até Montemor-o-Novo ‘ver os bichos e serpentear a Nacional 2 pela rota do megalítico’.