23.º Moto Rali do Moto Clube do Porto
Pela Costa de Prata, nas ondas com o Zé
Muita diversão e cultura, animação e jogos entusiasmantes, descobertas históricas e paisagens fantásticas, sempre com o mar por perto, marcaram a 23.ª edição do Moto Rali do Moto Clube do Porto, segundo evento pontuável para o 21.º Troféu Nacional de Moto Ralis Turísticos FMP/Dunlop.
Jornada dividida entre Alcobaça e Peniche, com muito interessante ‘road-book’, produzido com apoio da Lidergraf e desenhado para mostrar região onde as artes tradicionais da cerâmica se fundem com modernas unidades fabris de faiança. E onde o mar dá o sustento a gerações de pescadores e é palco de assustadores recordes em frágeis pranchas de surf, onde a história de Portugal está gravada em monumentos únicos.
Condimentos para o evento organizado pelo MCP a partir de Alcobaça, onde o fresco matinal ‘poupou’ a bem-disposta caravana que preparava o arranque frente ao palacete do século XIX, de gosto burguês, toque romântico e forte influência brasileira, que acolhe os Paços do Concelho. Dia que prometia ser muito quente e que obrigou a leitura atenta do ‘road-book’ desde o primeiro metro da ‘competição’, ao passar pela primeira das 69 rotundas (ou seriam 68? ou 70?...) que a organização aconselhou a ir dando atenção. E bastaram cinco rotundas para chegar ao primeiro ponto de paragem, na fábrica da Sporvil, onde foi mostrado todo o processo de criação da faiança portuguesa.
Tempo para descobrir a resposta às primeiras perguntas antes da visita ao Monte de S. Bartolomeu, com penosa escalada à capela onde também é venerado S. Brás, em festa que marca o início dos festejos de Carnaval. A conselho de um prestável ‘eremita’ que por ali orava, aproveitou-se para desfrutar da vista grandiosa sobre o monte cuja variada flora local, incluindo carrascos, medronheiros e adernos entre as mais de 150 plantas vasculares, valeu estatuto de Sítio Classificado, em 1979.
Do alto do monte, muitos repararam no Oceano Atlântico que, lá longe, serviria de pano de fundo para nova descoberta deste moto rali, com passagem pela Nazaré, município que é verdadeira ilha rodeada pelo mar e… freguesias alcobacenses por todos os lados. Apreciada do alto do escarpado promontório, a Nazaré revela a mais típica das imagens, mesmo junto ao Sítio. Local onde, reza a lenda, D. Fuas Roupinho mandou erguer a Ermida da Memória, sobre a gruta que acolheu durante a época muçulmana a imagem de Nossa Senhora da Nazaré. Mas a centenária história tem muito mais para mostrar. Como o Teatro Chaby Pinheiro, concebido no início do século XX à imagem do famoso La Scala, de Milão. A planta em forma de ferradura de cavalo beneficiava a acústica da sala que foi inaugurada em 1926 pelo famoso ator… Chaby Pinheiro.
Além destas figuras marcantes da cultura portuguesa, a Nazaré revelou outros pontos de interesse, da calorosa receção aos participantes levada a cabo pelo Moto Clube da Nazaré – Os Foquins – criado em 29 de fevereiro de 2016 e com a sua 1.ª Concentração marcada para 2 a 4 de junho. Paragem onde não faltou um casal de nazarenos vestidos a rigor, antes da visita ao Forte de S. Miguel Arcanjo, mais conhecido pelo Farol da Nazaré, de acrescida visibilidade mundial quando, a 1 de novembro de 2011, assistiu à “surfada” da maior onda do Mundo por Garret McNamara. O norte-americano aproveitou as condições ideias criadas pelo Canhão da Nazaré e surfou onda com 30 metros de altura, entrando direto para o Guiness Book of Records e atraindo mais atenções para a vila e o seu farol capaz de alumiar até 15 milhas da costa. Terra de pescarias que tem serra altaneira com mesmo nome (Serra da Pescaria), oferecedora de belas paisagens sobre a Praia do Salgado ou S. Martinho de Porto, apreciadas a caminho do almoço, no restaurante Paraíso do Coto.
Paragem nas Caldas da Rainha, terra de faianças entre o decorativo e o humorístico, passando pelas bem conhecidas peças artísticas de formas mais ousadas, com boa pitada de provocação. Figura omnipresente, Raphael Bordallo Pinheiro destacou-se pela união entre caricatura e a cerâmica artística, com genialidade que faz as imagens perdurar até aos dias de hoje, nomeadamente a figura do Zé Povinho, inspiradora do nome deste Moto Rali. E marcando de forma indelével a paisagem urbana e toponímia caldense, onde não faltam motivos de interesse para visita mais demorada, incluindo os museus da Cerâmica ou Barata Feyo, vistos de relance pela caravana na despedida da cidade que teve na Rainha D. Leonor a mais importante figura, fundadora do Hospital Termal, história revivida na visita ao Museu do Hospital e das Caldas da Rainha (Museu das Termas).
Sempre por estradas muito interessantes, oportunidade para ver o mais extenso sistema lagunar da costa portuguesa, onde o mar cede lugar à Lagoa de Óbidos, apreciando um dos locais mais bonitos da costa ocidental, onde um frágil ecossistema serve de habitat privilegiado a numerosas aves aquáticas e migratórias, além de moluscos bivalves. E onde a pesca foi motivo para mais um divertido desafio, no Covão dos Musaranhos, com esforço retemperado por deliciosa petisquice.
Beleza impar que pode ser desfrutada a partir das dunas de Salir do Porto através da Estrada Atlântica e que é, também, local de exceção para a prática de desportos como o remo, a vela ou o windsurf. Já para o futebol, a melhor opção surge no caminho para Peniche, passando no hotel onde estagiou a Seleção Nacional antes de partir à conquista do título de Campeão Europeu em 2016. A passagem pelo Baleal, pequena península que já foi ilha e está separada do continente por um tômbolo, foi momento relaxante com animado jogo onde os improvisados surfistas iam ao mar apanhar água com um balde… furado, que valeu algumas molhas mesmo antes da chegada ao Hotel Soleil.
Mas tudo isto apenas após visita à Ermida de S. Estevão onde os pescadores veneram também Nossa Senhora das Mercês. Pequeno templo edificado sobre a rocha e de onde, no final do século XVI, piratas muçulmanos terão saqueado, entre muitos outros objetos, a imagem da santa. Conta a lenda que, anos mais tarde, um cristão que havia estado sob cativeiro muçulmano reconheceu a estátua da Virgem das Mercês e, apesar da sua pobreza, negociou pagar o peso da imagem em prata. Milagrosamente viu a imagem apresentar um peso tão reduzido que a pouca quantidade de prata que possuía foi suficiente para devolver a estátua à ermida do Baleal.
Nota histórica que que encerrou a parte cultura do 1.º dia do Moto Rali MCP, antes do animado jantar onde não faltou recheado sorteio de brindes oferecidos pela Antero, concessionário BMW, Yamaha, Suzuki e outras marcas nos Carvalhos e pela Espaços Sonoros, patrocinadores lado a lado com a BMW, Benecar, Vitorino Seguros e Café Rosa. Tudo rematado com a atuação musical – e que até deu direito a pezinho de dança… – com o familiar Grupo de Acordeões “Amigos de Ferrel”, composto pelo patriarca da família, mais a esposa, filha e neto, juntamente com um casal amigo de toda a vida.
Amigos de Peniche
Tendo Peniche como epicentro, o segundo dia do Moto Rali do Moto Clube do Porto começou com agradável cafezinho na sede da Associação de Motociclismo de Peniche, com passagem obrigatória pelos portões da cidade que já foi uma ilha e pela escarpada marginal onde se destaca a Papôa como a mais impressionante formação geológica. No ponto mais ocidental de Portugal, o Cabo Carvoeiro, tempo ainda para apreciar o farol e dar uma vista de olhos sobre as Berlengas.
Preparação para a lição de história proporcionada na Fortaleza de Peniche, visitando edifício que seria catalogado como Monumento Nacional em 1938, pelo mesmíssimo Estado Novo que lhe daria maior relevância ao transformá-la em prisão política até 1974. Mandada edificar por D. João III em 1557 e concluída em 1645 por D. João IV, foi-se adaptando às necessidades de cada época, sendo praça militar de grande importância estratégica até 1897, abrigo de refugiados provenientes da África do Sul, residência de prisioneiros alemães e austríacos durante a I Guerra Mundial, alojamento provisório de famílias portuguesas chegadas das antigas colónias ultramarinas em 1974 e, a partir de 1984, casa do Museu Municipal. “Barrigada” cultural antes de viagem até Atouguia da Baleia onde deveriam “prender a burra” aos esteios de pedra no adro da igreja de Nossa Senhora da Conceição, e que terão servido de delimitação de um touril, palco de touradas reais no século XVIII. Aí, desafiados por um animado bandarilheiro, os participantes transformados em cavaleiros usaram da maior destreza em jogo que valeu pontos para a classificação final e, ainda mais importante, uma grande galhofa.
Mais estradas bonitas da região Oeste levaram a caravana de 67 motos e 106 pessoas até à aldeia de Sobral da Lagoa, na mais pequena freguesia do concelho, onde foi provada a mais famosa ginginha do País, de nome Oppidum. Brinde final antes de rumar até à entrada de Óbidos onde, por impedimento autárquico de a fazer no interior da vila, foi feita a foto final do grupo antes da viagem, curta e em caravana, até ao restaurante Manjar de Óbidos (e que manjar…), terminando aqui evento bem “capitaneado” por Germano Mateus, à frente a de verdadeiro “dream-team” que alinhou na seguinte disposição tática; Alice, José Barros, Maria João e José Fial; Sérgio Correia, Nuno Freitas e Carlos Gomes; Fátima e Vasco Rodrigues; Nuno Trepa Leite e Paulo Ribeiro e os “pontas-de-lança” Alexandra “Xana” Pina, Jorge “Xuxu” e Cláudia.
Almoço que manteve o registo muito animado vivido ao longo de todo o fim-de-semana e que terminou com entrega de lembranças e prémios a todos os participantes. Na luta pela regularidade, Vitor Olivença (equipa Olivença é Nossa) levou a melhor sobre o casal João e Carla Krull (Vitamina K), com Gualter Martins (Oleaster) a terminar no terceiro posto, brindados com bem afiadas facas Sico e, claro está, peças de cerâmica do mais famoso português, o Zé Povinho. E com os brindes bem acomodados nas malas – sobretudo as garrafas de vinho e canecas/porta-lapiseiras produzidas pela Sporvil –, lá abalaram os divertidos participantes, com promessa de reencontro a 27 e 28 de maio, no Alto Alentejo onde os Motards do Ocidente organizam a 3.ª prova do Troféu Nacional de Moto Ralis FMP/Dunlop.
Album de fotos do António Costa (delegado da FMP)