Meia centena deliciou-se com Rota escaldante
Descobrir novos paladares e conhecer o património local, ver paisagens diferentes e percorrer estradas menos conhecidas foram objetivos plenamente cumpridos em mais uma Rota dos Sabores. O Moto Clube do Porto, com apoio da Henisa Cash & Carry e da MotoTrofa, juntou meia centena de participantes para uma surpreendente descoberta da região centro. Aventura de exploração que começou cedo, com o sempre desejado café acompanhado pela primeira surpresa do dia.
Bombons com recheio de manjerico, isso mesmo, manjerico!, criados pela Pedaços de Cacau – da já nossa conhecida Raquel Lima – e que serviram para assinalar o final das festas dos santos populares e o início das viagens de verão. E que início!
Tentando aproveitar as temperaturas mais amenas da manhã, o grupo saiu do Grande Porto de forma diferente, através de estradas secundárias entre árvores, beneficiando de algumas sombras e passagens por vales refrescantes. Percurso pensado para enganar a adivinhada canícula, concentrando mais quilómetros na parte inicial de uma viagem que levaria a caravana até ao belíssimo parque de merendas da pateira de Espinhel.
Pouco mais de uma centena de quilómetros, com passagens na serra do Arestal, abordando ao de leve a Serra da Freita e olhando para a Serra do Caramulo, com passagens por Macieira de Cambra, Vale de Cambra ou Sever do Vouga antes da chegada a Águeda. Ou melhor, à aguedense Freguesia de Recardães e Espinhel, onde esperava o seu presidente, Manuel Campos. Mais precisamente ainda, à pateira de Espinhel, na lagoa de Fermentelos a maior lagoa natural da Península Ibérica.
Pedaço de paraíso adoçado pelos pastéis de Águeda
Local de enorme beleza, com parque verdejante que serviu de excecional palco para a receção preparada pelo Grupo Motard de Recardães e pelo seu presidente da Assembleia-geral, Marco Almeida. Que, associando-se ao evento do MCP, brindou os participantes com os famosos pastéis de Águeda para acompanhar o café, sumos e águas. Pastéis de origem conventual, feitos com açúcar, ovos e amêndoa, de origem historicamente disputada pelo Convento de Jesus, em Aveiro, e pelo Mosteiro de Lorvão, e de que existem atualmente apenas 5 produtores acreditados pela Câmara Municipal de Águeda.
Um momento para apreciar a beleza natural de um verdadeiro pedaço de paraíso e descansar um pouco, minimizando os efeitos da temperatura já então bem elevada, antes da curta tirada até à Curia. Viagem pelo meio de alguns dos vinhedos de onde saem os cada vez mais apreciados vinhos bairradinos e que acompanhariam um dos momentos altos da Rota dos Sabores 2022 Moto Clube do Porto/Henisa.
O almoço, servido no Curia Palace Hotel, foi marcado por uma imagem de grande elegância, em local de enorme carga histórica. Inaugurado em 1926 e alvo de cuidada remodelação integral, preservando todo o misticismo dos “loucos anos ‘20”, o Palace impressiona sempre pela grandiosidade e o classicismo de um ambiente ímpar, sendo elemento incontornável no panorama hoteleiro nacional.
Dos “loucos anos ‘20” à surpreendente vila Ançã
Com um serviço excelente a exaltar as características de um local inesquecível, custou aos participantes arrancar para a última etapa, curta, até Ançã. Uma vila de grande peso histórico cuja fundação remonta, pelo menos, à ocupação romana, ainda no primeiro século da era cristã, factos atestados por vários vestígios arqueológicos. Importância de longa data sublinhada pela doação de uma propriedade no ano 937 D.C e que representa o primeiro documento escrito com referência ao lugar de Ançã. Que ganharia estatuto de vila e sede de Concelho em 1371, com foral concedido por D. Fernando, e uma relevância crescente até às reformas liberais de 1853, altura em que passou a integrar o concelho de Cantanhede.
Recebidos pelo presidente da Junta de Freguesia de Ançã, Cláudio Cardoso, perceberiam os participantes a importância histórica, que valeu recuperação do estatuto de vila em 2001 e que está bem patente no legado patrimonial, maioritariamente edificado na característica pedra de ançã. Pedra calcária, de cor clara e muito macia, facilitando os trabalhos de escultura e ornamentação arquitetónica tendo como exemplos mais famosos os túmulos de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I ou a Porta Especiosa, da Sé Velha de Coimbra.
Mas também de monumentos ançanenses, muito bem-apresentados pela simpática e conhecedora técnica do Posto de Turismo Liliana Malva, do Paço do Marquês de Cascais à Igreja Matriz, dedicada a Nossa Senhora do Ó (ou a Expectação). Verdadeira gramática de estilos arquitetónicos, construída nos séculos XVIII e XIX e declarada como Património de Interesse Público em 1983. Particularmente interessante foi também a apaixonante história da fonte dos Castros ou da casa onde nasceu o médico, poeta, escritor, professor e intelectual Jaime Cortesão. História de Ançã que não ficaria completa sem a visita ao Museu Etnográfico Típico de Ançã ou descoberta do Moinho da Fonte, representando os muitos moinhos de água existentes nas margens da Ribeira de Ançã e aproveitando um caudal de água superior aos 20 mil litros por minuto! E para os melómanos, oportunidade ímpar de assistir, no Terreiro do Paço, ao ensaio geral da Phylarmonica Ançanense, com o espetáculo Plano V, integrante do programa da Semana Cultural de Ançã. Enfim, mais surpresas!
A fonte dos amores e um doce de piscina
Visitas que abriram o apetite para mais descobertas surpreendentes. Por um lado, a piscina natural, alimentada por água proveniente diretamente da nascente da Fonte dos Castros, e, por outro lado, a doçaria local. A começar pelo tradicional Bolo de Ançã, com origens se perdem no tempo e cuja simplicidade de ingredientes (farinha, açúcar, ovos, manteiga, fermento e raspas de limão) remete o segredo da qualidade para o saber ancestral das boleiras que fazem perdurar o processo de fabrico artesanal. Cozido em forno de lenha, tem a particularidade de uma feitura a 2 tempos, saindo do forno para ser feito um corte na parte superior em forma de coroa e pincelado com ovo para reforçar o tom dourado. E há também uma variante mais recente, feito sem ovos e com um toque a canela, cuja forma em S valeu designação de Bolo de Cornos.
Doçaria acompanhada por sumos, café de cafeteira tradicional e até uma jeropiga antes da possibilidade de desfrutar da piscina natural e do bar Quintal da Fonte, onde foi possível aproveitar um ameno sunset com direito a música ao vivo. Forma muito apreciada de terminar a Rota dos Sabores, antes de um regresso a casa feito à vontade de cada participante, com várias estradas nacionais à mão de semear e o acesso à autoestrada a escassos dois minutos de distância. E dispensando o eficiente trabalho dos “condutores de caravana” Rui Carvalho e Castro, Sérgio Correia, Nuno Trêpa Leite e Armando Moutinho, fundamentais na boa disposição e segurança ao longo de toda a viagem.