A voz do Fundador - Domingos Ribeiro

Por Domingos Ribeiro - sócio nº 4 de 14 de Maio de 1986

Como tudo começou? Foi naquele almoço, algures num restaurante em Espanha, numa daquelas cidades de fronteira, Porriño creio, como o nº 1 contou.

O grupo estava bem compostinho para a época, em número de aficionados, tanto Portugueses como Espanhóis. Tinham aparecido umas motitas valentes, o que quer dizer que a maior parte da malta não se conhecia. Eram mesas corridas, e por nos termos encontrado numas curvas, juntamo-nos, eu, o Manuel Soares, o Ernesto (Oliveira (?)), o Carlos Lopes (das motas, não das pernas), e duas aficionadíssimas e belas motards, a Paulinha e a Céu. Palavra puxa palavra sobre a dificuldade de organizar um passeio com um grupinho tão simpático em número, até que a dado momento o Manuel (o Suíço antes, agora o nº1), fala-nos do conhecimento que tinha de motoclubes, lá pelas estranjas. Ora aí fez-se luz; e porque não um nosso? O ganda Manel, animado de muita boa vontade, e espírito de sacrifício, sim de sacrifício, porque segundo parece deu um trabalhão dos diabos, meteu mãos à obra, e deu saída.

Nós tivemos o privilégio de poder ser chamados de fundadores deste motoclube, já a esbarrar o pré-histórico (para grande pesar meu, e certamente dos chamados fundadores e outros) por um mero acaso, pois, mais dia, menos dia, certamente iria aparecer um ‘iluminado‘, porque os telefonemas, encontros de café e outras habilidades já não eram suficientes para que se pudesse organizar passeios convenientemente divulgados.

O que vos posso confidenciar ainda relativamente a esse almoço, é que muito mais preocupado do que o Manuel com a burocracia do nascimento do clube, estava eu preocupado com o passeio que iria continuar depois de almoço. Como pode acontecer isso, se a nossa paixão era andar de moto? Eu confesso. É que este vosso companheiro de algumas curvas, comprou um motão mesmo antes de ter tirado a carta, e comprou o quê? Uma BMW K100 de estrada, uma motinha que na altura era só feita para alemães, por isso grande como o diabo e aaaalta, boa para tipos como eu que até aí nunca tinha rolado de moto, nem de motorizada sequer. Ora os Espanhóis tinham resolvido dar uma voltinha pelo interior da cidade, para mostrar o burgo, cidade que tinha umas ruelas estreitinhas como o diabo e um piso em granito que de tão irregular mais parecia as ameias dum castelo. Está-se, aliás, eu estava mesmo a ver a dificuldade que iria ter para manobrar aquele “camião”, pois, qual nascimento do clube, qual almoço, a minha preocupação era a carenagem, e a vergonha que iria passar quando ela aparecesse no chão.

Tudo isso ficou para trás, não sem algum saudosismo. Tudo, menos a consolidação do clube, que como todos sabemos está vivo, bem, e a rolar com boas médias. Quanto a mim, aprendi rápido a andar rápido e logo que pude, meti o bichinho no sócio nº 6, o meu moço, que com 9 anos, iniciou como pendura, nos passeios e muuuuiiiitas concentrações, a sua vida motard. Tenho saudades de sentir aquele rapazinho com os pés a um palmo dos patins e um grande capacete, maluco, pois, mas disso todos temos um pouco. Para quem interessar, nunca mais deixei cair nenhuma moto, depois daquela 1ª desgraçada que de tantos tombos lhe perdi a conta (o Bruno sabe como eu sei..). Depois “fartei-me” se se pode dizer, de rolar. Imaginem que até pela Rússia e por Cuba rompi pneu, eu e a minha mota, entre muitas outras aventuras ‘’curvilíneas’’ de estrada. Estamos todos de parabéns.

Grande abraço.

Sócio nº 3 - O Moto Clube do Porto, nas diversas actualizações de nº de associados efectuadas desde 2005, não atribui o nº 3 em tributo ao sócio fundador Jorge Garcia, que se manteve ligado ao clube até que uma doença prolongada o levou da nossa companhia em Maio desse ano.